Delírio Coletivo
E fez-se a luz!
Ou não.
Período Nonsense
Ao longo da história, a maioria dos movimentos literários e artísticos contradiziam o movimento anterior. O Renascimento foi contra tudo o que a Era Medieval disse, o Realismo negava os fundamentos do Romantismo e assim por diante.
Já o movimento Nonsense resolveu que não gostaria de contradizer o movimento anterior, no caso, o Modernismo e a Pop Art, o Nonsense quis negar absolutamente tudo ou não negar absolutamente nada.
Sob a máxima "Pra que fazer sentido!?", esse movimento cria uma contradição de tudo e dele mesmo, com raízes em todos os estilos literários e tendo por característica a abolição da linguagem figurada, nada mais era figurativo, tudo era real, e o que era real não existia, ou existia, ou o que quer que o leitor prefira.
O que aconteceu foi que no fim do século XX e começo do século XXI, com o fim da Guerra Fria, a ascensão dos EUA como maior força política e econômica do mundo, detendo um poder quase imperialista e com a estagnação de todo e qualquer movimento revolucionário, o mundo conheceu um período de conformismo em que qualquer coisa era uma revolução. Andar fantasiado, por exemplo, ou simplesmente usar um nariz de palhaço pela rua, já causava um grande choque por quebrar a monotonia cotidiana. O movimento DC, autor da obra Sofia, foi um dos primeiro a notar isso e adotar a idéia do Nonsense.
Da idéia para a prática foi um pulo. Embora no começo, apenas algumas pessoas tivessem adotado essa "revolução", assim como em qualquer outra já ocorrida, o clima e as idéias sem sentido foram tomando proporções mundiais e o mundo conheceu uma época maravilhosa, onde a espontaneidade e a imaginação tomaram conta de todos e tudo passou a ser fantástico e irreal. Chegou até a haver um certa desaceleração nas pesquisas cientificas, afinal não importava mais provar que pode-se dividir uma célula infinitamente.
Antes desse movimento, as pessoas buscavam uma explicação científica para tudo, mas depois ninguém mais queria a explicação lógica e inteligente. Todos perceberam que a fantasia era bem melhor, que cada um poderia formular sua própria teoria para qualquer coisa, todas as lendas sobre os "porquês" voltaram à tona e todos os povos buscavam as raízes de suas culturas para saber algo, quando não encontravam, criavam uma nova cultura.
Em meados da década de 10 do século XXI, o mundo já não fazia sentido algum. Viam-se pessoas fantasiadas, nas ruas, nos supermercados e até nos escritórios você encontrava pessoas vestidas de Pantera Cor-de-Rosa ou Smurffle.
As casas tinham pinturas psicodélicas e, às vezes, achavam-se florzinhas desenhadas no meio da rua.
Com a população nesse incrível estado de espírito, era natural que as artes também seguissem esse caminho.
Leis Absolutas do Delírio Coletivo
1ª Lei Absoluta
PATAFÍSICA- Tudo é decidido pela imaginação e não pela razão.
2ª Lei Não Absoluta
Não encher as caras aos domingos.
Quem quer fazer sentido?
A realidade é relativa;
A Fantasia é bem melhor;
Arte, Poesia e Loucura.
3ª Lei Absoluta
Usar LSD.
4ª Lei Absoluta
Enlouquecer a Política.
5ª Lei Absoluta
Nenhum tipo de censura.
Mandar as preposições e a gramática pro inferno!
6ª Lei Absoluta
O que fazer em casos de incêndio?
Deixe queimar!
7ª Lei Absoluta
Jogar uma garrafa de conhaque no Delírio Coletivo
8ª Lei Absoluta
DELIRAR.
9ª Lei Absoluta
Assassinar a monotonia causada pela razão.
24.8.06
21.8.06
Lusus serius: Os manifestos Rosacruzes e a 'piada séria'
por Mike Jay
A publicação anônima dos três Manifestos Rosacruzes na Alemanha entre 1614 e 1616 foi e ainda permanece um do furores políticos mais explosivos jamais
inspirados por um corpo de escritos esotéricos. Sua conclamação pela "Reforma Universal e Geral de Todo o Grande Mundo" ao redor da compreensão hermética
do homem como um microcosmo da Natureza foi recebida com uma furiosa caça às bruxas por toda a Europa setentrional e promessas de morte e imolação a
qualquer membro da elusiva "Fraternidade Invisível".
Os manifestos originais foram aceitos quase que imediatamente por torrentes de panfletários, sociedades e contra-sociedades secretas, tanto protestantes quanto
católicas, agentes provocadores, Fraternidades 'falsas' e espiões. Quando o furor passou, estava claro que não havia nenhum consenso sobre o que os manifestos
realmente eram. Alguns acreditavam que eram revelações inspiradas divinamente; outros (incluindo aqueles mais proximamente associados com eles) os
descartaram como um ludíbrio, ou 'um pouco de diversão'; outros os consideraram como uma fraude, ou um ato de dano político deliberado - ou Pactos Horríveis
Feitos Entre o Diabo e os Pretensos Invisíveis, como um folheto de Paris definiu.
Enquanto as sementes jogadas pelos Manifestos originais se espalhavam, estas divisões aumentaram ao invés de diminuir. Hoje, Christian Rosenkreuz, o fundador
mítico da Fraternidade, é aceito como uma figura inspirada divinamente por muitos grupos esotéricos, inclusive os seguidores de Rudolph Steiner e a maioria dos
Rosacruzes assumidos; para a maioria dos estudiosos históricos, os manifestos são uma 'fraude' e o furor um caso de histeria de massa paranóide.
Está bastante claro que os autores anônimos (embora não completamente misteriosos) dos Manifestos consideravam ambas visões mal-direcionadas. Há evidência
para isto tanto nos próprios manifestos quanto nos escritos subseqüentes das partes envolvidas. Johann Valentin Andreae, o pastor suábio pietista intimamente
associado com os manifestos (certamente com o final, 'As Bodas Químicas de Christian Rosenkreuz'), foi bastante específico: "Em vão você espera pela vinda da
Fraternidade - a comédia está em um fim".
Mas "a fictícia fraternidade Rosacruz", como ele a chama, era obviamente mais que o ludíbrio que ele pretende. Os manifestos são trabalhos consideráveis, e
obviamente sérios em intenção - até mesmo se não literalmente verdadeiros. Parece provável que Andreae estava exasperado em descartá-los como uma piada
pelo fundamentalismo literal que estava crescendo ao redor deles, o qual ele estava a esta altura impotente para deter. Talvez uma descrição melhor dos manifestos
poderia ser a usada como título por outro apologista Rosacruz, Michael Maier - o Lusus Serius, ou 'piada séria'.
Não é difícil entender a frustração de Andreae com a inabilidade do público de permitir que as ambigüidades dos Manifestos permanecessem, ou aceitar que eles
deveriam ser lidos em mais de um nível. Não é como se, ao vestir sua mensagem em termos fictícios, os autores dos Manifestos estivessem fazendo qualquer coisa
radicalmente nova. O lusus serius já era uma forma estabelecida, com raízes em algumas das escrituras espirituais mais antigas, e continuou evoluindo em formas
contemporâneas que podemos reconhecer hoje.
Os Manifestos de fato oferecem um ponto de partida excelente tanto para uma análise dos efeitos que podem ser alcançados pelo lusus serius quanto às técnicas
que podem ser usadas para alcançá-lo. Eles são trabalhos excitantes, tantalizantes e inspiradores, alcançando o delicado equilíbrio de revelação e encobrimento que
tornaram o furor possível. Além disso eles alcançam a mistura de mensagem revelatória com ficção imaginativa de dois modos muito diferentes. O 'Fama
Fraternitatis', como o primeiro manifesto é conhecido, usa a forma de uma proclamação política para apresentar uma ficção como verdade; o manifesto final, as
'Bodas Químicas de Christian Rosenkreuz', usa a forma de uma narrativa alegórica para apresentar verdade como ficção.
O Fama é estilizado como um anúncio oficial, mas é uma chamada para que se unam à causa da Fraternidade que é 'invisível'. Este é um convite para uma reunião
sem hora ou lugar. Ao invés, explica como a Fraternidade passou a ser. Esta é a história de um sábio chamado Christian Rosenkreuz que morreu há 120 anos, mas
cuja câmara mortuária - e assim seu conhecimento e legado secreto - foi redescoberta recentemente.
A história de Christian Rosenkreuz é uma união de pontos das influências que se esperava que aqueles atraídos pela chamada considerassem muito. Os encontros
dele com os sábios de Damasco, Egito, Fez e Espanha falam da influência da magia, alquimia e kaballah; Paracelso é mencionado como alguém que tem feito algo
similar. Similarmente, a descrição da Fraternidade apresenta um ideal de estudo, cura dos doentes, ignorando "a descrente e amaldiçoada fabricação de ouro, que
passou tanto dos limites", e trabalhando discretamente para a mudança nos corações dos homens.
Estas duas criações, Christian Rosenkreuz e a Fraternidade, provaram ter uma longevidade que um trato mais prosaico nunca poderia ter alcançado - uma
longevidade que rapidamente tomou vida própria. Dentro de algumas gerações a maioria dos seguidores do ideal Rosacruz foram instados a acreditar na verdade
literal destas histórias; até que na época em que Shelley escreveu seu romance juvenil 'O Rosacruz', a imagem da Fraternidade Invisível de adeptos fazedores de
ouro era uma característica livre na consciência popular, sua fonte há muito esquecida: Shelley não mostra nenhum sinal de saber que os Manifestos sequer
existiram.
Mas esta 'literalização' dos Manifestos pelo público, e sua condenação como mentiras malignas pelas autoridades, pode ter vindo como uma surpresa aos seus
autores devido à tradição na qual eles estavam escrevendo. Muitos dos trabalhos que mais os inspiraram eram 'arcaizados', i.e. apresentados em uma forma que
sugeria que eram mais antigos do que de fato eram. Isto não era considerado uma 'fraude' - somente um modo elegante de dar ênfase às raízes e tradição da
escrita.
O exemplo mais famoso disto era, é claro, o 'Corpus Hermeticum', o corpo neo-platônico de diálogos mágicos e cosmológicos que eram, muito ironicamente,
tomados literalmente em suas alegações de terem sido passados de Hermes Trismegistus, o sábio legendário de tempos pré-clássicos. Era esta crença de que o
'Corpus' tinha centenas de anos de idade que foi realmente responsável pelo crescimento do movimento Hermético do tempo em que os diálogos foram traduzidos
primeiro por Ficino em 1463, e também pelo minguar dramático de interesse no mesmo movimento depois que eles foram corretamente datados por Isaac
Casaubon em 1614. Uma vez que esta descoberta se tornou amplamente conhecida, só os apologistas herméticos mais teimosos como Fludd e Kircher
continuaram a alegar sua verdade literal. Mas, como os próprios Manifestos deixam claro, a tradição hermética mal deveria se sustentar ou se abalar pela
apresentação arcaizada dos textos.
Tal arcaísmo era difundido no período helenístico onde revivificações (ou reinvenções) das religiões antigas era comuns. Muitos dos apocalipses judeus proféticos
escritos na época mostraram a mesma tendência arcaizadora: 'Jubileus', por exemplo, foi atribuído a Moisés, '1 Enoque' a um patriarca do alvorecer do tempo. Esta
técnica era, é claro, eminentemente adequada à profecia: o autor poderia revelar uma série de detalhes surpreendentemente precisos sobre o suposto futuro, o que
conferiria maior autoridade à revelação que se seguia.
Seria pouco generoso e perverso chamar este método de apresentação uma 'fraude' ou mentira: os autores podem acreditar na verdade literal do próprio arcaísmo
(hoje em dia chamado 'canalização'), ou podem estar apresentando sua revelação como alegoria e oferecendo a fonte arcaica como uma chave para decodificá-la.
Ou, novamente, eles podem estar usando o recurso para fins literários.
Há muitos exemplos mais próximos a nosso próprio tempo de todas estas abordagens, muitos dos quais tiveram sucesso em impulsionar o início de grandes
movimentos espirituais. 'Estrofes de Dzya' de H P Blavatsky, por exemplo, às quais seus livros 'Ísis Revelada' e 'A Doutrina Secreta' formam um comentário
estendido, são alegadas como fragmentos do "livro mais antigo do mundo", apresentado a ela em folhas de palmeira não-perecíveis pelos seus Mestres Invisíveis
Tibetanos. Na ausência de qualquer evidência corroboradora, a maioria dos não-teósofos é relutante em aceitar a verdade literal disto, embora Blavatsky tenha
negado veementemente o argumento de ludíbrio. Como seu contemporâneo Joseph Smith, cujo 'Livro Mórmon' se materializou de um modo semelhante, as queixas
de céticos tiveram pouco efeito no movimento resultante. (Mas uma vez que a 'Doação de Constantino', o documento que confere autoridade divina ao Papa, é
reconhecida hoje como sendo uma falsificação do século IX, temos que considerar realisticamente a autenticidade de revelação doutrinal como um luxo ao invés de
uma necessidade).
Um feito semelhante foi concretizado ao contrário pelo escritor de horror H P Lovecraft, que evoluiu seu antigo livro de sabedoria proibida, o 'Necronomicon', no
curso de desenvolver o suporte cósmico de seus os contos do 'Mito de Cthulhu'. Ele desfrutou do processo de aderná-lo o bastante para produzir uma publicação
e história de tradução fictícias, um ludíbrio que, como os Manifestos, passou a desenvolver uma vida própria, com a crença persistente na existência literal do livro e
uma subcultura de magia ritual dedicada a invocar sua prole cósmica. O próprio Lovecraft, que aproveitou toda a oportunidade para declarar seu convicto
materialismo, estaria sem dúvida ou entretido ou assustado por este curso de eventos. Para ele, o 'Necronomicon' era um conceito que concretizava o fascínio de
textos antigos e proibidos, muito como a história de Christian Rosenkreuz no 'Fama' concretizava o ideal do hermético iluminado. Os proponentes da mágica
Lovecraftiana podem, porém, apontar a seus vívidos sonhos como uma fonte de 'canalização inconsciente' do além da parede do sono.
É interessante comparar esta técnica de arcaização com outra variante que se desenvolveu neste século para se tornar um tema familiar de livros contemporâneos: o
documento ficcionalizado recebido não do passado mas do futuro. Isto foi largamente estabelecido por H G Wells em seus primeiros romances como 'A Guerra
dos Mundos' e 'A Máquina de Tempo'; embora o recurso tivesse sido usado antes, tinha sido tipicamente ou uma desculpa para um trato utópico ou uma sátira leve
de tradições contemporâneas. Ao usar isto como um dispositivo para tornar a profecia mais crível, a 'inovação estilística' de Wells pode ser vista em uma linha
direta de descendência do Antigo Testamento e apocalipses judaicos - e, evidentemente, na forma da radiodifusão de Orson Welles produziu o maior lusus serius e
furor subseqüente do século passado. (O próprio Welles depois produziu 'F para Fraude', uma apologia em filme para o lusus serius e a perversidade pós-moderna
em geral).
Talvez o contemporâneo equivalente mais próximo à forma do Fama são os trabalhos da Igreja do SubGenius, os antinômios anônimos surrealistas que propagam
sua mensagem no estilo das chamadas religiosas contemporâneas, as exortações de vendas por correspondência das igrejas evangélicas. Embora sua paródia seja
(esperamos) muito ampla para ser tomada literalmente, eles insistem na seriedade subjacente de sua mensagem: "Bem, se você pensou que esta Igreja era uma
piada, então por Deus você nunca vai entender a GRAÇA!". Mas apesar de várias tentativas louváveis, um furor na escala dos Rosacruzes permanece algo com o
que eles só podem sonhar.
. . .
Se o Fama era parte de uma tradição contínua de ficção vestida como verdade, as 'Bodas Químicas' ocupa uma posição na tradição ainda mais difundida de
verdade sob as vestes de alegoria narrativa. Mas era a combinação dos dois que é talvez sem igual, e era certamente unicamente efetiva. O chamado do 'Fama' era
uma lista de reivindicações e promessas grandiosas que urgentemente clamavam o tipo de substância que as 'Bodas Químicas' fornecia; em troca, a insistência do
Fama na "Reforma Universal e Geral de Todo o Grande Mundo" tornou certo que a alegoria das 'Bodas Químicas' era assiduamente varrida pelo seu significado
oculto.
Estudantes ansiosos de 'Bodas Químicas' foram não só recompensados com uma narrativa que ganhou uma reputação merecida de clássico de literatura esotérica,
mas uma na qual o espírito do lusus serius foi perpetuado. Também antedatado (a 1459), conta a história de sete dias na vida de seu protagonista, que é convidado
a um Casamento Real e faz uma viagem fantástica a um castelo onde um rei morto deve ser magicamente ressuscitado para seu próprio casamento.
O 'Bodas Químicas' está entre os mais agradáveis e facilmente legíveis trabalhos de seu tipo, muito notavelmente assim entre seus vizinhos alemães. As transições
fluidas de realidade para fantasia, através de sonhos, peças-dentro-de-peças e funcionamentos alquímicos, impelem o leitor por uma narrativa vívida e de
movimento rápido onde nada é o que parece. Até mesmo seus protagonistas são permitidos a desfrutar de si mesmos no curso de sua busca espiritual séria: durante
o pivotal "Quarto Dia" eles são todos reunidos para assistir uma peça que tem interlúdios leves ("Primeiro Interlúdio: aqui um leão foi disposto a lutar com um grifo,
e o leão ganhou; o que foi muito bom de assistir").
O 'Bodas Químicas', aproximadamente contemporâneo com o trabalho posterior e mais hermético de Shakespeare, delineia mais ou menos o ponto alto da alegoria
esotérica. Até mesmo mais que o arcaísmo do Fama, a forma alegórica teria sido imediatamente reconhecível a seus leitores contemporâneos. Dentro da tradição
alemã, seguiu discernivelmente de clássicos medievais como 'Parcifal' de von Eschenbach: muito foi feito dos paralelos entre os Cavaleiros do Graal, a Fraternidade
Invisível e o os 'Cavaleiros da Pedra Dourada' do 'Bodas Químicas', e também entre o milagrosamente preservado Titurel e o corpo não consumido de Christian
Rosenkreuz em sua câmara mortuária. Dentro da tradição esotérica mais ampla, sua forma lembra narrativas Sufi como a 'Conferência dos Pássaros' de Farid
ud-Din Attar, ou o clímax do contemporâneo neo-platônico do Corpus Hermeticum, o 'Asno Dourado' de Apuleius.
'Ficção esotérica', como o lusus serius, é algo como uma contradição em termos. Envolve duas coisas diferentes ao mesmo tempo: revelar uma mensagem espiritual
e construir um drama de personagens e ação. Já que ambos têm sua própria dinâmica, é freqüentemente necessário escolher entre eles. Os autores podem usar suas
intenções esotéricas na manga, proclamando a natureza revelatória de seu trabalho abertamente e abandonando a narrativa onde necessário para buscar seu
propósito 'sério'; ou eles podem focalizar suas habilidades em embutir a narrativa imperceptivelmente com o seu subtexto oculto.
Se nós incluímos esta segunda abordagem como 'ficção esotérica', então antes do século XVIII, a maioria dos grandes de Dante a Shakespeare a Milton (e depois
Goethe) entram na categoria; de fato, poderia ser mais simples compilar uma lista de autores que não codificaram sua ficção com um esquema esotérico. Mas da
Ilustração em diante, 'ficção esotérica' se torna distintamente mais marginalizada, emergindo novamente como um gênero popular apenas no século XIX. Neste
movimento vitoriano, porém, o espírito do lusus serius está largamente esquecido, e o toque leve do 'Bodas Químicas' está tradicionalmente perdido. 'Zanoni: Um
Conto Rosacruz' de Bulwer Lytton, por exemplo, permanece impenetrável à maioria dos leitores modernos, sua narrativa paralisada pela tendência de seus
Invisíveis Iluminados de interromper a história para oferecer sermões prolongados e bastante pomposos e também, de certo modo dramaticamente irritante, de
estar sempre certos.
Na vida real, Lytton era um estudioso oculto sensato e perceptivo, mas sua ficção 'esotérica' (por exemplo 'Vril: A Raça Vindoura, O Assombrador e o
Assombrado') continuou sofrendo destes defeitos. Ainda, há exceções honráveis do período, como o inacabado 'Manuscrito de Saragoça' de Jan Potocki, um
trabalho no estilo vivo, irreverente e ritmado do picaresco do século XVIII, que é uma delícia para ler e rememorativo ao 'Bodas Químicas' de modos bastante
específicos para sugerir que Potocki estava familiarizado com ele. O 'Manuscrito de Saragoça' é dividido de forma similar em dias numerados na vida do
protagonista, a maioria dos quais, como o 'Bodas Químicas', inclui tanto incidentes de despertar e um sonho (com trocas delirantemente confusas da realidade entre
estes), e características que um Cabalista à busca uma revelação divina que faz um paralelo com as próprias experiências do protagonista.
Embora o legado do estilo de 'ficção esotérica' de Lytton tenha sobrevivido até o presente, a influência do 'Bodas Químicas' e o lusus serius passou a duas escolas
distintas de literatura contemporânea. Por um lado, as idéias dos Manifestos foram exploradas por literati esotérico que trataram de forma inteligente com
conspiração oculta (e.g. Eco em 'O Pêndulo de Foucault') e as implicações metafísicas do lusus serius (e.g. Borges em 'Orbis Tertius'). Mas estes são trabalhos
sobre os assuntos evidenciados pelos Manifestos, em lugar de seus verdadeiros sucessores. A forma dos manifestos - o trabalho revelatório em roupagem de ficção
- é mais claramente visto em best-sellers como a série Don Juan de Castaneda, 'O Alquimista' de Paulo Coelho e suas seqüências, 'buscas espirituais' como 'A
Profecia Celestina' e a enorme subcultura de narrativas 'canalizadas' de aliens e anjos. Estes compartilham com os Manifestos a pretensão de ser 'mais que ficção',
para não serem lidos apenas pelo seu mérito literário. Podemos sentir que há pouco mérito literário para lê-los, que em contraste, os Manifestos são obras-primas
literárias, e muito mais, mas podemos reconhecer o legado em forma se não em qualidade.
Talvez os escritores contemporâneos mais próximos de ligar estas duas escolas são Robert Shea e Robert Anton Wilson cuja série 'Illuminati!' lida com os assuntos
históricos dos Manifestos enquanto também se apresentam meio-seriamente como 'livros para viver de acordo com' e revelações de sabedoria oculta. Em seu
melhor, eles alcançam o lusus serius em sua forma de contracultura moderna: estes são livros que apenas hippies paranóicos tomarão seriamente, ou é exatamente
isto que Eles querem que você pense?
Claramente, procurar equivalentes modernos precisos dos Manifestos é cair na armadilha de literalismo que sempre foi não entender o essencial. Como Goethe
disse do 'Bodas Químicas', "haverá uma estória para ser contada no momento certo, mas terá que ser renascida - não pode ser desfrutada em sua pele antiga". Nós
não estamos mais na posição dos autores originais de cristãos místicos pietistas tentando uma revolução da igreja e política: isso realmente era um jogo sério, e um
que iria levar a Fraternidade Invisível ao conflito militar efetivo. Mas os Manifestos tiveram sucesso em transmutar sua mensagem de ludíbrio para lenda; e a arma
do lusus serius ainda está lá ser para ser descarregada por qualquer um que possa adaptar sua sensibilidade ao mundo que encontrar ao seu redor.
Fonte: http://www.ceticismoaberto.com/fortianismo/rosacruz.htm
por Mike Jay
A publicação anônima dos três Manifestos Rosacruzes na Alemanha entre 1614 e 1616 foi e ainda permanece um do furores políticos mais explosivos jamais
inspirados por um corpo de escritos esotéricos. Sua conclamação pela "Reforma Universal e Geral de Todo o Grande Mundo" ao redor da compreensão hermética
do homem como um microcosmo da Natureza foi recebida com uma furiosa caça às bruxas por toda a Europa setentrional e promessas de morte e imolação a
qualquer membro da elusiva "Fraternidade Invisível".
Os manifestos originais foram aceitos quase que imediatamente por torrentes de panfletários, sociedades e contra-sociedades secretas, tanto protestantes quanto
católicas, agentes provocadores, Fraternidades 'falsas' e espiões. Quando o furor passou, estava claro que não havia nenhum consenso sobre o que os manifestos
realmente eram. Alguns acreditavam que eram revelações inspiradas divinamente; outros (incluindo aqueles mais proximamente associados com eles) os
descartaram como um ludíbrio, ou 'um pouco de diversão'; outros os consideraram como uma fraude, ou um ato de dano político deliberado - ou Pactos Horríveis
Feitos Entre o Diabo e os Pretensos Invisíveis, como um folheto de Paris definiu.
Enquanto as sementes jogadas pelos Manifestos originais se espalhavam, estas divisões aumentaram ao invés de diminuir. Hoje, Christian Rosenkreuz, o fundador
mítico da Fraternidade, é aceito como uma figura inspirada divinamente por muitos grupos esotéricos, inclusive os seguidores de Rudolph Steiner e a maioria dos
Rosacruzes assumidos; para a maioria dos estudiosos históricos, os manifestos são uma 'fraude' e o furor um caso de histeria de massa paranóide.
Está bastante claro que os autores anônimos (embora não completamente misteriosos) dos Manifestos consideravam ambas visões mal-direcionadas. Há evidência
para isto tanto nos próprios manifestos quanto nos escritos subseqüentes das partes envolvidas. Johann Valentin Andreae, o pastor suábio pietista intimamente
associado com os manifestos (certamente com o final, 'As Bodas Químicas de Christian Rosenkreuz'), foi bastante específico: "Em vão você espera pela vinda da
Fraternidade - a comédia está em um fim".
Mas "a fictícia fraternidade Rosacruz", como ele a chama, era obviamente mais que o ludíbrio que ele pretende. Os manifestos são trabalhos consideráveis, e
obviamente sérios em intenção - até mesmo se não literalmente verdadeiros. Parece provável que Andreae estava exasperado em descartá-los como uma piada
pelo fundamentalismo literal que estava crescendo ao redor deles, o qual ele estava a esta altura impotente para deter. Talvez uma descrição melhor dos manifestos
poderia ser a usada como título por outro apologista Rosacruz, Michael Maier - o Lusus Serius, ou 'piada séria'.
Não é difícil entender a frustração de Andreae com a inabilidade do público de permitir que as ambigüidades dos Manifestos permanecessem, ou aceitar que eles
deveriam ser lidos em mais de um nível. Não é como se, ao vestir sua mensagem em termos fictícios, os autores dos Manifestos estivessem fazendo qualquer coisa
radicalmente nova. O lusus serius já era uma forma estabelecida, com raízes em algumas das escrituras espirituais mais antigas, e continuou evoluindo em formas
contemporâneas que podemos reconhecer hoje.
Os Manifestos de fato oferecem um ponto de partida excelente tanto para uma análise dos efeitos que podem ser alcançados pelo lusus serius quanto às técnicas
que podem ser usadas para alcançá-lo. Eles são trabalhos excitantes, tantalizantes e inspiradores, alcançando o delicado equilíbrio de revelação e encobrimento que
tornaram o furor possível. Além disso eles alcançam a mistura de mensagem revelatória com ficção imaginativa de dois modos muito diferentes. O 'Fama
Fraternitatis', como o primeiro manifesto é conhecido, usa a forma de uma proclamação política para apresentar uma ficção como verdade; o manifesto final, as
'Bodas Químicas de Christian Rosenkreuz', usa a forma de uma narrativa alegórica para apresentar verdade como ficção.
O Fama é estilizado como um anúncio oficial, mas é uma chamada para que se unam à causa da Fraternidade que é 'invisível'. Este é um convite para uma reunião
sem hora ou lugar. Ao invés, explica como a Fraternidade passou a ser. Esta é a história de um sábio chamado Christian Rosenkreuz que morreu há 120 anos, mas
cuja câmara mortuária - e assim seu conhecimento e legado secreto - foi redescoberta recentemente.
A história de Christian Rosenkreuz é uma união de pontos das influências que se esperava que aqueles atraídos pela chamada considerassem muito. Os encontros
dele com os sábios de Damasco, Egito, Fez e Espanha falam da influência da magia, alquimia e kaballah; Paracelso é mencionado como alguém que tem feito algo
similar. Similarmente, a descrição da Fraternidade apresenta um ideal de estudo, cura dos doentes, ignorando "a descrente e amaldiçoada fabricação de ouro, que
passou tanto dos limites", e trabalhando discretamente para a mudança nos corações dos homens.
Estas duas criações, Christian Rosenkreuz e a Fraternidade, provaram ter uma longevidade que um trato mais prosaico nunca poderia ter alcançado - uma
longevidade que rapidamente tomou vida própria. Dentro de algumas gerações a maioria dos seguidores do ideal Rosacruz foram instados a acreditar na verdade
literal destas histórias; até que na época em que Shelley escreveu seu romance juvenil 'O Rosacruz', a imagem da Fraternidade Invisível de adeptos fazedores de
ouro era uma característica livre na consciência popular, sua fonte há muito esquecida: Shelley não mostra nenhum sinal de saber que os Manifestos sequer
existiram.
Mas esta 'literalização' dos Manifestos pelo público, e sua condenação como mentiras malignas pelas autoridades, pode ter vindo como uma surpresa aos seus
autores devido à tradição na qual eles estavam escrevendo. Muitos dos trabalhos que mais os inspiraram eram 'arcaizados', i.e. apresentados em uma forma que
sugeria que eram mais antigos do que de fato eram. Isto não era considerado uma 'fraude' - somente um modo elegante de dar ênfase às raízes e tradição da
escrita.
O exemplo mais famoso disto era, é claro, o 'Corpus Hermeticum', o corpo neo-platônico de diálogos mágicos e cosmológicos que eram, muito ironicamente,
tomados literalmente em suas alegações de terem sido passados de Hermes Trismegistus, o sábio legendário de tempos pré-clássicos. Era esta crença de que o
'Corpus' tinha centenas de anos de idade que foi realmente responsável pelo crescimento do movimento Hermético do tempo em que os diálogos foram traduzidos
primeiro por Ficino em 1463, e também pelo minguar dramático de interesse no mesmo movimento depois que eles foram corretamente datados por Isaac
Casaubon em 1614. Uma vez que esta descoberta se tornou amplamente conhecida, só os apologistas herméticos mais teimosos como Fludd e Kircher
continuaram a alegar sua verdade literal. Mas, como os próprios Manifestos deixam claro, a tradição hermética mal deveria se sustentar ou se abalar pela
apresentação arcaizada dos textos.
Tal arcaísmo era difundido no período helenístico onde revivificações (ou reinvenções) das religiões antigas era comuns. Muitos dos apocalipses judeus proféticos
escritos na época mostraram a mesma tendência arcaizadora: 'Jubileus', por exemplo, foi atribuído a Moisés, '1 Enoque' a um patriarca do alvorecer do tempo. Esta
técnica era, é claro, eminentemente adequada à profecia: o autor poderia revelar uma série de detalhes surpreendentemente precisos sobre o suposto futuro, o que
conferiria maior autoridade à revelação que se seguia.
Seria pouco generoso e perverso chamar este método de apresentação uma 'fraude' ou mentira: os autores podem acreditar na verdade literal do próprio arcaísmo
(hoje em dia chamado 'canalização'), ou podem estar apresentando sua revelação como alegoria e oferecendo a fonte arcaica como uma chave para decodificá-la.
Ou, novamente, eles podem estar usando o recurso para fins literários.
Há muitos exemplos mais próximos a nosso próprio tempo de todas estas abordagens, muitos dos quais tiveram sucesso em impulsionar o início de grandes
movimentos espirituais. 'Estrofes de Dzya' de H P Blavatsky, por exemplo, às quais seus livros 'Ísis Revelada' e 'A Doutrina Secreta' formam um comentário
estendido, são alegadas como fragmentos do "livro mais antigo do mundo", apresentado a ela em folhas de palmeira não-perecíveis pelos seus Mestres Invisíveis
Tibetanos. Na ausência de qualquer evidência corroboradora, a maioria dos não-teósofos é relutante em aceitar a verdade literal disto, embora Blavatsky tenha
negado veementemente o argumento de ludíbrio. Como seu contemporâneo Joseph Smith, cujo 'Livro Mórmon' se materializou de um modo semelhante, as queixas
de céticos tiveram pouco efeito no movimento resultante. (Mas uma vez que a 'Doação de Constantino', o documento que confere autoridade divina ao Papa, é
reconhecida hoje como sendo uma falsificação do século IX, temos que considerar realisticamente a autenticidade de revelação doutrinal como um luxo ao invés de
uma necessidade).
Um feito semelhante foi concretizado ao contrário pelo escritor de horror H P Lovecraft, que evoluiu seu antigo livro de sabedoria proibida, o 'Necronomicon', no
curso de desenvolver o suporte cósmico de seus os contos do 'Mito de Cthulhu'. Ele desfrutou do processo de aderná-lo o bastante para produzir uma publicação
e história de tradução fictícias, um ludíbrio que, como os Manifestos, passou a desenvolver uma vida própria, com a crença persistente na existência literal do livro e
uma subcultura de magia ritual dedicada a invocar sua prole cósmica. O próprio Lovecraft, que aproveitou toda a oportunidade para declarar seu convicto
materialismo, estaria sem dúvida ou entretido ou assustado por este curso de eventos. Para ele, o 'Necronomicon' era um conceito que concretizava o fascínio de
textos antigos e proibidos, muito como a história de Christian Rosenkreuz no 'Fama' concretizava o ideal do hermético iluminado. Os proponentes da mágica
Lovecraftiana podem, porém, apontar a seus vívidos sonhos como uma fonte de 'canalização inconsciente' do além da parede do sono.
É interessante comparar esta técnica de arcaização com outra variante que se desenvolveu neste século para se tornar um tema familiar de livros contemporâneos: o
documento ficcionalizado recebido não do passado mas do futuro. Isto foi largamente estabelecido por H G Wells em seus primeiros romances como 'A Guerra
dos Mundos' e 'A Máquina de Tempo'; embora o recurso tivesse sido usado antes, tinha sido tipicamente ou uma desculpa para um trato utópico ou uma sátira leve
de tradições contemporâneas. Ao usar isto como um dispositivo para tornar a profecia mais crível, a 'inovação estilística' de Wells pode ser vista em uma linha
direta de descendência do Antigo Testamento e apocalipses judaicos - e, evidentemente, na forma da radiodifusão de Orson Welles produziu o maior lusus serius e
furor subseqüente do século passado. (O próprio Welles depois produziu 'F para Fraude', uma apologia em filme para o lusus serius e a perversidade pós-moderna
em geral).
Talvez o contemporâneo equivalente mais próximo à forma do Fama são os trabalhos da Igreja do SubGenius, os antinômios anônimos surrealistas que propagam
sua mensagem no estilo das chamadas religiosas contemporâneas, as exortações de vendas por correspondência das igrejas evangélicas. Embora sua paródia seja
(esperamos) muito ampla para ser tomada literalmente, eles insistem na seriedade subjacente de sua mensagem: "Bem, se você pensou que esta Igreja era uma
piada, então por Deus você nunca vai entender a GRAÇA!". Mas apesar de várias tentativas louváveis, um furor na escala dos Rosacruzes permanece algo com o
que eles só podem sonhar.
. . .
Se o Fama era parte de uma tradição contínua de ficção vestida como verdade, as 'Bodas Químicas' ocupa uma posição na tradição ainda mais difundida de
verdade sob as vestes de alegoria narrativa. Mas era a combinação dos dois que é talvez sem igual, e era certamente unicamente efetiva. O chamado do 'Fama' era
uma lista de reivindicações e promessas grandiosas que urgentemente clamavam o tipo de substância que as 'Bodas Químicas' fornecia; em troca, a insistência do
Fama na "Reforma Universal e Geral de Todo o Grande Mundo" tornou certo que a alegoria das 'Bodas Químicas' era assiduamente varrida pelo seu significado
oculto.
Estudantes ansiosos de 'Bodas Químicas' foram não só recompensados com uma narrativa que ganhou uma reputação merecida de clássico de literatura esotérica,
mas uma na qual o espírito do lusus serius foi perpetuado. Também antedatado (a 1459), conta a história de sete dias na vida de seu protagonista, que é convidado
a um Casamento Real e faz uma viagem fantástica a um castelo onde um rei morto deve ser magicamente ressuscitado para seu próprio casamento.
O 'Bodas Químicas' está entre os mais agradáveis e facilmente legíveis trabalhos de seu tipo, muito notavelmente assim entre seus vizinhos alemães. As transições
fluidas de realidade para fantasia, através de sonhos, peças-dentro-de-peças e funcionamentos alquímicos, impelem o leitor por uma narrativa vívida e de
movimento rápido onde nada é o que parece. Até mesmo seus protagonistas são permitidos a desfrutar de si mesmos no curso de sua busca espiritual séria: durante
o pivotal "Quarto Dia" eles são todos reunidos para assistir uma peça que tem interlúdios leves ("Primeiro Interlúdio: aqui um leão foi disposto a lutar com um grifo,
e o leão ganhou; o que foi muito bom de assistir").
O 'Bodas Químicas', aproximadamente contemporâneo com o trabalho posterior e mais hermético de Shakespeare, delineia mais ou menos o ponto alto da alegoria
esotérica. Até mesmo mais que o arcaísmo do Fama, a forma alegórica teria sido imediatamente reconhecível a seus leitores contemporâneos. Dentro da tradição
alemã, seguiu discernivelmente de clássicos medievais como 'Parcifal' de von Eschenbach: muito foi feito dos paralelos entre os Cavaleiros do Graal, a Fraternidade
Invisível e o os 'Cavaleiros da Pedra Dourada' do 'Bodas Químicas', e também entre o milagrosamente preservado Titurel e o corpo não consumido de Christian
Rosenkreuz em sua câmara mortuária. Dentro da tradição esotérica mais ampla, sua forma lembra narrativas Sufi como a 'Conferência dos Pássaros' de Farid
ud-Din Attar, ou o clímax do contemporâneo neo-platônico do Corpus Hermeticum, o 'Asno Dourado' de Apuleius.
'Ficção esotérica', como o lusus serius, é algo como uma contradição em termos. Envolve duas coisas diferentes ao mesmo tempo: revelar uma mensagem espiritual
e construir um drama de personagens e ação. Já que ambos têm sua própria dinâmica, é freqüentemente necessário escolher entre eles. Os autores podem usar suas
intenções esotéricas na manga, proclamando a natureza revelatória de seu trabalho abertamente e abandonando a narrativa onde necessário para buscar seu
propósito 'sério'; ou eles podem focalizar suas habilidades em embutir a narrativa imperceptivelmente com o seu subtexto oculto.
Se nós incluímos esta segunda abordagem como 'ficção esotérica', então antes do século XVIII, a maioria dos grandes de Dante a Shakespeare a Milton (e depois
Goethe) entram na categoria; de fato, poderia ser mais simples compilar uma lista de autores que não codificaram sua ficção com um esquema esotérico. Mas da
Ilustração em diante, 'ficção esotérica' se torna distintamente mais marginalizada, emergindo novamente como um gênero popular apenas no século XIX. Neste
movimento vitoriano, porém, o espírito do lusus serius está largamente esquecido, e o toque leve do 'Bodas Químicas' está tradicionalmente perdido. 'Zanoni: Um
Conto Rosacruz' de Bulwer Lytton, por exemplo, permanece impenetrável à maioria dos leitores modernos, sua narrativa paralisada pela tendência de seus
Invisíveis Iluminados de interromper a história para oferecer sermões prolongados e bastante pomposos e também, de certo modo dramaticamente irritante, de
estar sempre certos.
Na vida real, Lytton era um estudioso oculto sensato e perceptivo, mas sua ficção 'esotérica' (por exemplo 'Vril: A Raça Vindoura, O Assombrador e o
Assombrado') continuou sofrendo destes defeitos. Ainda, há exceções honráveis do período, como o inacabado 'Manuscrito de Saragoça' de Jan Potocki, um
trabalho no estilo vivo, irreverente e ritmado do picaresco do século XVIII, que é uma delícia para ler e rememorativo ao 'Bodas Químicas' de modos bastante
específicos para sugerir que Potocki estava familiarizado com ele. O 'Manuscrito de Saragoça' é dividido de forma similar em dias numerados na vida do
protagonista, a maioria dos quais, como o 'Bodas Químicas', inclui tanto incidentes de despertar e um sonho (com trocas delirantemente confusas da realidade entre
estes), e características que um Cabalista à busca uma revelação divina que faz um paralelo com as próprias experiências do protagonista.
Embora o legado do estilo de 'ficção esotérica' de Lytton tenha sobrevivido até o presente, a influência do 'Bodas Químicas' e o lusus serius passou a duas escolas
distintas de literatura contemporânea. Por um lado, as idéias dos Manifestos foram exploradas por literati esotérico que trataram de forma inteligente com
conspiração oculta (e.g. Eco em 'O Pêndulo de Foucault') e as implicações metafísicas do lusus serius (e.g. Borges em 'Orbis Tertius'). Mas estes são trabalhos
sobre os assuntos evidenciados pelos Manifestos, em lugar de seus verdadeiros sucessores. A forma dos manifestos - o trabalho revelatório em roupagem de ficção
- é mais claramente visto em best-sellers como a série Don Juan de Castaneda, 'O Alquimista' de Paulo Coelho e suas seqüências, 'buscas espirituais' como 'A
Profecia Celestina' e a enorme subcultura de narrativas 'canalizadas' de aliens e anjos. Estes compartilham com os Manifestos a pretensão de ser 'mais que ficção',
para não serem lidos apenas pelo seu mérito literário. Podemos sentir que há pouco mérito literário para lê-los, que em contraste, os Manifestos são obras-primas
literárias, e muito mais, mas podemos reconhecer o legado em forma se não em qualidade.
Talvez os escritores contemporâneos mais próximos de ligar estas duas escolas são Robert Shea e Robert Anton Wilson cuja série 'Illuminati!' lida com os assuntos
históricos dos Manifestos enquanto também se apresentam meio-seriamente como 'livros para viver de acordo com' e revelações de sabedoria oculta. Em seu
melhor, eles alcançam o lusus serius em sua forma de contracultura moderna: estes são livros que apenas hippies paranóicos tomarão seriamente, ou é exatamente
isto que Eles querem que você pense?
Claramente, procurar equivalentes modernos precisos dos Manifestos é cair na armadilha de literalismo que sempre foi não entender o essencial. Como Goethe
disse do 'Bodas Químicas', "haverá uma estória para ser contada no momento certo, mas terá que ser renascida - não pode ser desfrutada em sua pele antiga". Nós
não estamos mais na posição dos autores originais de cristãos místicos pietistas tentando uma revolução da igreja e política: isso realmente era um jogo sério, e um
que iria levar a Fraternidade Invisível ao conflito militar efetivo. Mas os Manifestos tiveram sucesso em transmutar sua mensagem de ludíbrio para lenda; e a arma
do lusus serius ainda está lá ser para ser descarregada por qualquer um que possa adaptar sua sensibilidade ao mundo que encontrar ao seu redor.
Fonte: http://www.ceticismoaberto.com/fortianismo/rosacruz.htm
17.8.06
Groucho-marxismo
“O groucho-marxismo, teoria da revolução pela comédia, é muito mais do que um esquema para a luta de classes: como uma luz vermelha na janela, ilumina o
destino inevitável da humanidade, a sociedade déclassé. O groucho-marxismo é a teoria do deleite permanente”, explica logo nas primeiras linhas Bob Black,
ativista, cientista social norte-americano e autor do mais novo título da Coleção Baderna: Groucho-Marxismo.
O cientista social de extrema esquerda questiona o comportamento dos militantes de esquerdas, “pseudo intelectuais” que, segundo ele, estão preocupados em se
mostrar responsáveis para serem aceitos nos “grandes salões” da sociedade. Para Bob Black, os pervertidos sexuais não são mais os membros da TFP, mas sim a
esquerda, a única que defende sinceramente a tradição, a família e a propriedade.
Autor de textos polêmicos publicados em veículos como o Wall Street Journal e a revista Village Voice, o escritor faz uma verdadeira ode ao que ele entitulou de
teoria groucho-marxista. Não se trata de anarquismo ou de uma teoria comunista ou socialista. Aliás, o estudioso faz duras críticas a todos esses movimentos. “Os
anarquistas não se entendem sobre trabalho, industrialismo, sindicalismo, urbanismo, ciência, liberdade sexual, religião e um sem-número de coisas mais
importantes, especialmente quando tomadas em conjunto. Há mais pontos discordantes do que qualquer coisa que os una”, afirma Black em um dos capítulos do
livro entitulado “Meu problema com o anarquismo”, dedicado ao pensamento anarquista.
Já sobre o marxismo, no capítulo destinado a tratar as “Palavras de Poder”, Bob Black é taxativo: trata-se do “estágio mais elevado do capitalismo”. Outras
palavras de poder que merecem destaque:
Arte? Um substituto cada vez mais inadequado para o sexo.
Civilização? A doença de pele da biosfera.
Política? Como um brejo – tudo o que é sujo acaba subindo.
Serviço militar? Conheça o abatedouro.
Punks? Hippies com amnésia.
Punques? Punks que cursam escolas de arte.
O rock? Tem um grande futuro por trás.
Vegetarianos? Você é o que come.
Vida após morte? Por que esperar?
Com muito humor, a linha filosófica groucho-marxista prega que “se a revolução não servir para dançar e rir, não será nossa revolução”. Em “A abolição do
trabalho” o autor discorda e lança argumentos contundentes contra uma das grandes bandeiras socialistas: a questão do pleno emprego. Ele avalia todos os lados
da moeda, inclusive o “não-trabalho”: “O lazer é o não-trabalho em nome do trabalho. O lazer é o tempo gasto se recuperando do trabalho e na frenética, porém
vã, tentativa de esquecer o trabalho”. Bob Black vai mais além: “A principal diferença entre o trabalho e o lazer é que trabalhando pelo menos você é pago por sua alienação e exasperação”.
“[Bob Black] supera qualquer ensaísta político vivo... o trocadilho mais rápido do Oeste”, define Hakim Bey, outro autor da Conrad – escreveu Caos - Terrorismo
Poético e outros Crimes Exemplares e TAZ Zona Autônoma Temporária, também da Coleção Baderna
O autor
Bob Black tem uma formação acadêmica respeitável (graduações em ciências sociais e direito, dois títulos de mestrado), mas rejeitou desde o início os dois
caminhos principais apresentados à intelectualidade “séria”: a segmentação cientificista liberal ou o cinismo da esquerda frígida. Em vez disso, tornou-se famoso pelos cartazes anarquistas/situacionistas/absurdistas que criou à frente da “Última Internacional”, entre 1977 e 1983
Além da ação panfletária, escreveu também centenas de ensaios, distribuídos indistintamente entre periódicos anarquistas, jornais da área de direito e órgãos da
grande imprensa, como Wall Street Journal, Village Voice, Semiotext(e) e Re/Search. Publicou Friendly Fire, em 1992, Beneath the Underground, em 1994, e
Anarchy after Leftism, em 1996. O texto The Abolition of Work and Other Essays que faz parte do livro Groucho-Marxismo - é o capítulo “A abolição do
trabalho” - foi publicado originalmente em 1985. Também foi um dos pioneiros na divulgação do situacionismo nas Américas. Sua capacidade singular para criar
jogos de palavras, aliada ao humor ácido e ao conhecimento teórico, faz dele um dos grandes nomes do anarquismo heterodoxo.
Fonte: http://www.portal364.com/m5.asp?cod_noticia=9155&cod_pagina=1013
TESES SOBRE O GROUCHO-MARXISMO
Bob Black
1
Groucho-marxismo, a teoria da revolução cômica, é muito mais que um projeto para a luta de classes: como uma luz vermelha numa janela, ele ilumina o destino
inevitável da humanidade, a sociedade desclassificada (1). G-Marxismo é a teoria da folia permanente. (Aí, garoto! Até que enfim, eis um ótimo dogma).
2
O exemplo dos próprios Irmãos Marx mostra a unidade da teoria e prática marxista (por exemplo, quando Groucho insulta alguém enquanto Harpo depena sua
carteira ). Além disso, o marxismo é dialético (Chico não é o clássico comediante dialético?). Comediantes que fracassam em sintetizar teoria e prática (para não
mencionar aqueles que fracassam totalmente em pecar) são não-marxistas. Comediantes posteriores, fracassando em entender que a separação é “o discreto
charme da burguesia”, decaíram para meras gafes, por um lado, e mera tagarelice, por outro.
3
Como o G-Marxismo é prático, seus feitos não podem nunca ser reduzidos ao mero humor, entretenimento ou “arte”. (Os estetas, afinal de contas, estão menos
interessados na interpretação da arte do que na arte que interpreta.) Depois que um genuíno marxista assiste a um filme dos Irmãos Marx, ele diz para si mesmo:
“Se você achou isso engraçado, preste atenção à sua vida!”.
4
G-marxistas contemporâneos devem decididamente denunciar o “Marxismo” vulgar, de imitação, dos Três Patetas, Monty Python, e Pernalonga. Em vez do
marxismo vulgar, devemos retornar à autêntica vulgaridade marxista. Retoficação (2) serve igualmente para aqueles camaradas desiludidos que pensam que “a linha
correta” é o que o tira faz quando manda eles pararem no acostamento.
5
Marxistas com consciência de classe (isto é, marxistas conscientes de que não possuem nenhuma classe) devem rejeitar a “comédia” anêmica, da moda, narcisista,
de revisionistas cômicos como Woody Allen e Jules Feiffer. A revolução cômica já ultrapassou a mera neurose – ela é risonha mas não risível, discriminante mas
não discriminatória, militante mas não militar, e aventurosa mas não aventureira. Os marxistas percebem que hoje você deve olhar no espelho de uma casa
assombrada de parque de diversões para se ver da forma que você realmente é.
6
Embora não totalmente desprovido de vislumbres de insight marxista, o (sur)realismo socialista deve ser distinguido do G-Marxismo. É verdade que Salvador Dali
deu uma vez a Harpo uma harpa feita com arame farpado; no entanto, não há nenhuma evidência de que Harpo alguma vez a tenha tocado.
7
Acima de tudo, é essencial renunciar e execrar todo sectarismo cômico como o dos trotskos eqüinos. Como é bem sabido, Groucho repetidamente propunha o
sexo mas se opunha às seitas. Para Groucho, havia uma diferença entre ser um trotsko e estar louco para “trotar” (3). Além disso, o slogan trotsko “Salários para o
Trabalho Eqüino” cheira a reforma, não a folia. Os esforços trotskos para reivindicar Um dia nas Corridas e Os Gênios da Pelota como de sua tendência devem ser
indignadamente rejeitados; na verdade, A Mocidade é Assim Mesmo está mais na velocidade deles (4).
8
O assunto mais urgente que os G-Marxistas confrontam hoje é a questão do partido (5), que - ao invés do que pensam “marxistas” ingênuos, reducionistas – é mais
que apenas “Por que não fui convidado?” Isso nunca foi impedimento para Groucho! Os marxistas precisam de seu próprio partido disciplinado de vanguarda, pois
eles são raramente bem-vindos aos de qualquer outro.
9
Guiadas pelos dogmas fundamentais do desbehaviorismo e do materialismo histérico, as massas inevitavelmente abraçarão, não apenas o G-Marxismo, mas
também mutuamente uns aos outros.
10
O Groucho Marxismo, então, é o tour de farce da comédia. Como seguramente se diz que Harpo falou:
“Em outras palavras, a comédia será revoltosa ou não será!” Tanto por fazer, tantos para fazê-lo! Sobre seus Marx, está dada a largada! (6)
Notas:
1. No original, déclassé. (N. do Tradutor)
2. “Rectumfication”, neologismo bricalhão que Black inventou a partir de “retificação” e “reto” (rectum, canal do ânus). (N. do T.)
3. Trocadilho aqui intraduzível entre “Trots” (trotskistas) e “hot to trot” (excitado para trepar), sem esquecer a brincadeira com os eqüinos pois “to trot” significa
trotar. (N. do T.)
4. Um dia nas Corridas (A Day in the Races) e Os Gênios da Pelota (Horse Feathers) são filmes dos Irmãos Marx, enquanto A Mocidade é Assim Mesmo
(National Velvet) é um velho drama onde Liz Taylor atuou ainda garota. (N. do T.)
5. Mais um trocadilho neste texto pleno deles: “party” é tanto partido quanto festa em inglês. Para entender a piada melhor, leia o parágrafo com os dois
significados, substituindo onde houver “partido” por “festa”. (N. do T.)
6. Outro trocadilho praticamente intraduzível, desta vez com a exclamação que dá início a competições de corrida : “On your marks, get set –go!” aqui trocada por
“On your Marx, get set – go!”. (N. do T.)
Tradução de Ricardo Rosas
Fonte:
Página de Bob Black na Spunk: http://www.spunk.org/library/writers/black/
Rizoma: http://www.rizoma.net/interna.php?id=162&secao=intervencao
“O groucho-marxismo, teoria da revolução pela comédia, é muito mais do que um esquema para a luta de classes: como uma luz vermelha na janela, ilumina o
destino inevitável da humanidade, a sociedade déclassé. O groucho-marxismo é a teoria do deleite permanente”, explica logo nas primeiras linhas Bob Black,
ativista, cientista social norte-americano e autor do mais novo título da Coleção Baderna: Groucho-Marxismo.
O cientista social de extrema esquerda questiona o comportamento dos militantes de esquerdas, “pseudo intelectuais” que, segundo ele, estão preocupados em se
mostrar responsáveis para serem aceitos nos “grandes salões” da sociedade. Para Bob Black, os pervertidos sexuais não são mais os membros da TFP, mas sim a
esquerda, a única que defende sinceramente a tradição, a família e a propriedade.
Autor de textos polêmicos publicados em veículos como o Wall Street Journal e a revista Village Voice, o escritor faz uma verdadeira ode ao que ele entitulou de
teoria groucho-marxista. Não se trata de anarquismo ou de uma teoria comunista ou socialista. Aliás, o estudioso faz duras críticas a todos esses movimentos. “Os
anarquistas não se entendem sobre trabalho, industrialismo, sindicalismo, urbanismo, ciência, liberdade sexual, religião e um sem-número de coisas mais
importantes, especialmente quando tomadas em conjunto. Há mais pontos discordantes do que qualquer coisa que os una”, afirma Black em um dos capítulos do
livro entitulado “Meu problema com o anarquismo”, dedicado ao pensamento anarquista.
Já sobre o marxismo, no capítulo destinado a tratar as “Palavras de Poder”, Bob Black é taxativo: trata-se do “estágio mais elevado do capitalismo”. Outras
palavras de poder que merecem destaque:
Arte? Um substituto cada vez mais inadequado para o sexo.
Civilização? A doença de pele da biosfera.
Política? Como um brejo – tudo o que é sujo acaba subindo.
Serviço militar? Conheça o abatedouro.
Punks? Hippies com amnésia.
Punques? Punks que cursam escolas de arte.
O rock? Tem um grande futuro por trás.
Vegetarianos? Você é o que come.
Vida após morte? Por que esperar?
Com muito humor, a linha filosófica groucho-marxista prega que “se a revolução não servir para dançar e rir, não será nossa revolução”. Em “A abolição do
trabalho” o autor discorda e lança argumentos contundentes contra uma das grandes bandeiras socialistas: a questão do pleno emprego. Ele avalia todos os lados
da moeda, inclusive o “não-trabalho”: “O lazer é o não-trabalho em nome do trabalho. O lazer é o tempo gasto se recuperando do trabalho e na frenética, porém
vã, tentativa de esquecer o trabalho”. Bob Black vai mais além: “A principal diferença entre o trabalho e o lazer é que trabalhando pelo menos você é pago por sua alienação e exasperação”.
“[Bob Black] supera qualquer ensaísta político vivo... o trocadilho mais rápido do Oeste”, define Hakim Bey, outro autor da Conrad – escreveu Caos - Terrorismo
Poético e outros Crimes Exemplares e TAZ Zona Autônoma Temporária, também da Coleção Baderna
O autor
Bob Black tem uma formação acadêmica respeitável (graduações em ciências sociais e direito, dois títulos de mestrado), mas rejeitou desde o início os dois
caminhos principais apresentados à intelectualidade “séria”: a segmentação cientificista liberal ou o cinismo da esquerda frígida. Em vez disso, tornou-se famoso pelos cartazes anarquistas/situacionistas/absurdistas que criou à frente da “Última Internacional”, entre 1977 e 1983
Além da ação panfletária, escreveu também centenas de ensaios, distribuídos indistintamente entre periódicos anarquistas, jornais da área de direito e órgãos da
grande imprensa, como Wall Street Journal, Village Voice, Semiotext(e) e Re/Search. Publicou Friendly Fire, em 1992, Beneath the Underground, em 1994, e
Anarchy after Leftism, em 1996. O texto The Abolition of Work and Other Essays que faz parte do livro Groucho-Marxismo - é o capítulo “A abolição do
trabalho” - foi publicado originalmente em 1985. Também foi um dos pioneiros na divulgação do situacionismo nas Américas. Sua capacidade singular para criar
jogos de palavras, aliada ao humor ácido e ao conhecimento teórico, faz dele um dos grandes nomes do anarquismo heterodoxo.
Fonte: http://www.portal364.com/m5.asp?cod_noticia=9155&cod_pagina=1013
TESES SOBRE O GROUCHO-MARXISMO
Bob Black
1
Groucho-marxismo, a teoria da revolução cômica, é muito mais que um projeto para a luta de classes: como uma luz vermelha numa janela, ele ilumina o destino
inevitável da humanidade, a sociedade desclassificada (1). G-Marxismo é a teoria da folia permanente. (Aí, garoto! Até que enfim, eis um ótimo dogma).
2
O exemplo dos próprios Irmãos Marx mostra a unidade da teoria e prática marxista (por exemplo, quando Groucho insulta alguém enquanto Harpo depena sua
carteira ). Além disso, o marxismo é dialético (Chico não é o clássico comediante dialético?). Comediantes que fracassam em sintetizar teoria e prática (para não
mencionar aqueles que fracassam totalmente em pecar) são não-marxistas. Comediantes posteriores, fracassando em entender que a separação é “o discreto
charme da burguesia”, decaíram para meras gafes, por um lado, e mera tagarelice, por outro.
3
Como o G-Marxismo é prático, seus feitos não podem nunca ser reduzidos ao mero humor, entretenimento ou “arte”. (Os estetas, afinal de contas, estão menos
interessados na interpretação da arte do que na arte que interpreta.) Depois que um genuíno marxista assiste a um filme dos Irmãos Marx, ele diz para si mesmo:
“Se você achou isso engraçado, preste atenção à sua vida!”.
4
G-marxistas contemporâneos devem decididamente denunciar o “Marxismo” vulgar, de imitação, dos Três Patetas, Monty Python, e Pernalonga. Em vez do
marxismo vulgar, devemos retornar à autêntica vulgaridade marxista. Retoficação (2) serve igualmente para aqueles camaradas desiludidos que pensam que “a linha
correta” é o que o tira faz quando manda eles pararem no acostamento.
5
Marxistas com consciência de classe (isto é, marxistas conscientes de que não possuem nenhuma classe) devem rejeitar a “comédia” anêmica, da moda, narcisista,
de revisionistas cômicos como Woody Allen e Jules Feiffer. A revolução cômica já ultrapassou a mera neurose – ela é risonha mas não risível, discriminante mas
não discriminatória, militante mas não militar, e aventurosa mas não aventureira. Os marxistas percebem que hoje você deve olhar no espelho de uma casa
assombrada de parque de diversões para se ver da forma que você realmente é.
6
Embora não totalmente desprovido de vislumbres de insight marxista, o (sur)realismo socialista deve ser distinguido do G-Marxismo. É verdade que Salvador Dali
deu uma vez a Harpo uma harpa feita com arame farpado; no entanto, não há nenhuma evidência de que Harpo alguma vez a tenha tocado.
7
Acima de tudo, é essencial renunciar e execrar todo sectarismo cômico como o dos trotskos eqüinos. Como é bem sabido, Groucho repetidamente propunha o
sexo mas se opunha às seitas. Para Groucho, havia uma diferença entre ser um trotsko e estar louco para “trotar” (3). Além disso, o slogan trotsko “Salários para o
Trabalho Eqüino” cheira a reforma, não a folia. Os esforços trotskos para reivindicar Um dia nas Corridas e Os Gênios da Pelota como de sua tendência devem ser
indignadamente rejeitados; na verdade, A Mocidade é Assim Mesmo está mais na velocidade deles (4).
8
O assunto mais urgente que os G-Marxistas confrontam hoje é a questão do partido (5), que - ao invés do que pensam “marxistas” ingênuos, reducionistas – é mais
que apenas “Por que não fui convidado?” Isso nunca foi impedimento para Groucho! Os marxistas precisam de seu próprio partido disciplinado de vanguarda, pois
eles são raramente bem-vindos aos de qualquer outro.
9
Guiadas pelos dogmas fundamentais do desbehaviorismo e do materialismo histérico, as massas inevitavelmente abraçarão, não apenas o G-Marxismo, mas
também mutuamente uns aos outros.
10
O Groucho Marxismo, então, é o tour de farce da comédia. Como seguramente se diz que Harpo falou:
“Em outras palavras, a comédia será revoltosa ou não será!” Tanto por fazer, tantos para fazê-lo! Sobre seus Marx, está dada a largada! (6)
Notas:
1. No original, déclassé. (N. do Tradutor)
2. “Rectumfication”, neologismo bricalhão que Black inventou a partir de “retificação” e “reto” (rectum, canal do ânus). (N. do T.)
3. Trocadilho aqui intraduzível entre “Trots” (trotskistas) e “hot to trot” (excitado para trepar), sem esquecer a brincadeira com os eqüinos pois “to trot” significa
trotar. (N. do T.)
4. Um dia nas Corridas (A Day in the Races) e Os Gênios da Pelota (Horse Feathers) são filmes dos Irmãos Marx, enquanto A Mocidade é Assim Mesmo
(National Velvet) é um velho drama onde Liz Taylor atuou ainda garota. (N. do T.)
5. Mais um trocadilho neste texto pleno deles: “party” é tanto partido quanto festa em inglês. Para entender a piada melhor, leia o parágrafo com os dois
significados, substituindo onde houver “partido” por “festa”. (N. do T.)
6. Outro trocadilho praticamente intraduzível, desta vez com a exclamação que dá início a competições de corrida : “On your marks, get set –go!” aqui trocada por
“On your Marx, get set – go!”. (N. do T.)
Tradução de Ricardo Rosas
Fonte:
Página de Bob Black na Spunk: http://www.spunk.org/library/writers/black/
Rizoma: http://www.rizoma.net/interna.php?id=162&secao=intervencao
14.8.06
CAOS LINGUÍSTICO
AINDA NÃO UMA CIÊNCIA, mas uma proposição: que certos problemas de linguística possam ser resolvidos através da abordagem da linguagem como um
sistema dinâmico complexo, ou "campo caótico".
De todas as escolas originadas pela linguística de Saussure, temos especial interesse por duas: a primeira, "antilingüística", pode ser encontrada - no período
moderno - da partida de Rimbaud para a Abissínia à afirmação de Nietzsche "temo que, enquanto tivermos gramática, não teremos matado Deus"; passando pelo
dadaísmo; "o Mapa não é o Território" de Korzybski; pelos cut ups e pela "ruptura na sala cinza" de Burroughs; pelo ataque de Zerzan à própria linguagem como
representação e mediação.
A segunda é a linguística de Chomsky que, com sua crença numa "gramática universal" e seus diagramas em forma de árvores, representa (eu acredito) uma
tentativa de "salvar" a linguagem através da descoberta de "invariáveis ocultas", do mesmo modo que certos cientistas estão tentando "salvar" a física da
"irracionalidade" da mecânica quântica. Embora fosse de se esperar que Chomsky, como anarquista, ficasse do lado dos niilistas, a sua belíssima teoria em verdade
tem mais a ver com o platonismo ou com o sufísmo do que com o anarquismo. A metafísica tradicional descreve a linguagem como luz pura brilhando através dos
vidros coloridos dos arquétipos; Chomsky fala de gramáticas "inatas". As palavras são folhas, os ramos são frases, os idiomas maternos são limbos, as famílias de
linguagem são troncos e as raízes estão no "céu"... ou no DNA. Eu chamo a isso "hermetalingüística" - hermética e metafísica. O niilismo (ou a "Metalingüística
Pesada", em honra a Burroughs) parece-me ter levado a linguagem para um beco sem saída e ameaçado torná-la "impossível" (um grande feito, mas deprimente),
enquanto Chomsky mantém a promessa e a esperança de uma revelação de última hora, o que eu acho igualmente difícil de aceitar. Eu também gostaria de "salvar"
a linguagem, mas sem apelar para nenhuma "Assombração", ou supostas regras sobre Deus, dados e o universo.
Voltando a Saussure e suas anotações, postumamente publicadas, sobre anagramas na poesia latina, encontramos certas indicações de um processo que, de alguma
forma, foge da dinâmica signo/significante.
Saussure se deparou com a possibilidade de algum tipo de "meta"- lingüística que acontece dentro da linguagem em vez de ser imposta desde "fora" como um
imperativo categórico. Assim que a linguagem começa a atuar, como nos poemas acrósticos que ele examinou, ela parece ressonar com uma complexidade
autoexpansiva. Saussure tentou quantificar os anagramas, mas os números escapavam dele (como se envolvessem equações não-lineares). Além disso, ele começou
a encontrar os anagramas por todo lado, mesmo na prosa latina. Começou a se perguntar se estava tendo alucinações, ou se os anagramas eram um processo
natural inconsciente da parole. Abandonou o projeto.
Eu me pergunto: se quantidades suficientes de informações desse tipo fossem digeridas num computador, começaríamos a ser capazes de modelar a linguagem em
termos de sistemas dinâmicos complexos? As gramáticas, então, não seriam "inatas", mas emergiriam do caos espontaneamente como "ordens superiores" que
evoluem, no sentido da "evolução criativa" de Prigogine. As gramáticas poderiam ser pensadas como "Estranhos Atratores", como o padrão escondido que
"causou" os anagramas - padrões que são "reais", mas que têm "existência" apenas em termos dos sub-padrões que manifestam. Se o significado é elusivo, talvez
seja porque a própria consciência, e portanto a linguagem, seja fractal.
Considero essa teoria mais satisfatoriamente anarquista do que qualquer antilingüistica ou chomskyanismo. Ela sugere que a linguagem pode sobrepor-se à
representação e à mediação, não porque seja inata, mas porque é caótica. Ela sugere que toda experimentação dadaísta (Feyerabend designou sua escola de
epistemologia científica de "dadaísmo anárquico") com poesia sonora, gestos, chistes, linguagem bestial etc. não foi feita com o objetivo nem de descobrir nem de
destruir o significado, mas de criá-lo. O niilismo afirma sombriamente que a linguagem cria significado de forma "arbitrária". O Caos Linguístico alegremente
concorda com isso, mas adiciona que a linguagem pode superar a linguagem, que a linguagem pode criar liberdade a partir da confusão e da decadência da tirania
semântica.
Apêndice A de "TAZ (Temporary Autonomous Zone), Zona Autônoma Temporária" - Hakim Bey
AINDA NÃO UMA CIÊNCIA, mas uma proposição: que certos problemas de linguística possam ser resolvidos através da abordagem da linguagem como um
sistema dinâmico complexo, ou "campo caótico".
De todas as escolas originadas pela linguística de Saussure, temos especial interesse por duas: a primeira, "antilingüística", pode ser encontrada - no período
moderno - da partida de Rimbaud para a Abissínia à afirmação de Nietzsche "temo que, enquanto tivermos gramática, não teremos matado Deus"; passando pelo
dadaísmo; "o Mapa não é o Território" de Korzybski; pelos cut ups e pela "ruptura na sala cinza" de Burroughs; pelo ataque de Zerzan à própria linguagem como
representação e mediação.
A segunda é a linguística de Chomsky que, com sua crença numa "gramática universal" e seus diagramas em forma de árvores, representa (eu acredito) uma
tentativa de "salvar" a linguagem através da descoberta de "invariáveis ocultas", do mesmo modo que certos cientistas estão tentando "salvar" a física da
"irracionalidade" da mecânica quântica. Embora fosse de se esperar que Chomsky, como anarquista, ficasse do lado dos niilistas, a sua belíssima teoria em verdade
tem mais a ver com o platonismo ou com o sufísmo do que com o anarquismo. A metafísica tradicional descreve a linguagem como luz pura brilhando através dos
vidros coloridos dos arquétipos; Chomsky fala de gramáticas "inatas". As palavras são folhas, os ramos são frases, os idiomas maternos são limbos, as famílias de
linguagem são troncos e as raízes estão no "céu"... ou no DNA. Eu chamo a isso "hermetalingüística" - hermética e metafísica. O niilismo (ou a "Metalingüística
Pesada", em honra a Burroughs) parece-me ter levado a linguagem para um beco sem saída e ameaçado torná-la "impossível" (um grande feito, mas deprimente),
enquanto Chomsky mantém a promessa e a esperança de uma revelação de última hora, o que eu acho igualmente difícil de aceitar. Eu também gostaria de "salvar"
a linguagem, mas sem apelar para nenhuma "Assombração", ou supostas regras sobre Deus, dados e o universo.
Voltando a Saussure e suas anotações, postumamente publicadas, sobre anagramas na poesia latina, encontramos certas indicações de um processo que, de alguma
forma, foge da dinâmica signo/significante.
Saussure se deparou com a possibilidade de algum tipo de "meta"- lingüística que acontece dentro da linguagem em vez de ser imposta desde "fora" como um
imperativo categórico. Assim que a linguagem começa a atuar, como nos poemas acrósticos que ele examinou, ela parece ressonar com uma complexidade
autoexpansiva. Saussure tentou quantificar os anagramas, mas os números escapavam dele (como se envolvessem equações não-lineares). Além disso, ele começou
a encontrar os anagramas por todo lado, mesmo na prosa latina. Começou a se perguntar se estava tendo alucinações, ou se os anagramas eram um processo
natural inconsciente da parole. Abandonou o projeto.
Eu me pergunto: se quantidades suficientes de informações desse tipo fossem digeridas num computador, começaríamos a ser capazes de modelar a linguagem em
termos de sistemas dinâmicos complexos? As gramáticas, então, não seriam "inatas", mas emergiriam do caos espontaneamente como "ordens superiores" que
evoluem, no sentido da "evolução criativa" de Prigogine. As gramáticas poderiam ser pensadas como "Estranhos Atratores", como o padrão escondido que
"causou" os anagramas - padrões que são "reais", mas que têm "existência" apenas em termos dos sub-padrões que manifestam. Se o significado é elusivo, talvez
seja porque a própria consciência, e portanto a linguagem, seja fractal.
Considero essa teoria mais satisfatoriamente anarquista do que qualquer antilingüistica ou chomskyanismo. Ela sugere que a linguagem pode sobrepor-se à
representação e à mediação, não porque seja inata, mas porque é caótica. Ela sugere que toda experimentação dadaísta (Feyerabend designou sua escola de
epistemologia científica de "dadaísmo anárquico") com poesia sonora, gestos, chistes, linguagem bestial etc. não foi feita com o objetivo nem de descobrir nem de
destruir o significado, mas de criá-lo. O niilismo afirma sombriamente que a linguagem cria significado de forma "arbitrária". O Caos Linguístico alegremente
concorda com isso, mas adiciona que a linguagem pode superar a linguagem, que a linguagem pode criar liberdade a partir da confusão e da decadência da tirania
semântica.
Apêndice A de "TAZ (Temporary Autonomous Zone), Zona Autônoma Temporária" - Hakim Bey
10.8.06
"Diz-se que toda obra de arte resguarda um nonsense, bordando em suas bordas, margens, litorais a instauração da verdade, pela eclosão do ente desvelado, o
além do saber, o que transcende e aponta para o indizível, para o impossível, para o limite."
BISPO com QUIXOTE
além do saber, o que transcende e aponta para o indizível, para o impossível, para o limite."
BISPO com QUIXOTE
7.8.06
Os chistes e sua relação com o inconsciente
(1905) [Freud,S.]
1905 Leipzig e Viena: Deuticke, Pp. ii + 206.
1912 2ª ed. Mesmos editores. Pp. iv + 207.
INTRODUÇÃO - DER WITZ UND SEINE BEZIEHUNG ZUM UNBEWUSSTEN
"(...)Outras idéias, mais ou menos inter-relacionadas, que têm emergido para a definição ou a descrição dos chistes, são as seguintes: um contraste de idéias, sentido no nonsense, desconcerto e esclarecimento.
Definições como a de Kraepelin enfatizam como fator principal o contraste de idéias. Um chiste é a conexão ou a ligação arbitrária, através de uma associação verbal, de duas idéias, que de algum modo contrastam entre si. (...)" Zur Psychologie des Komischen, Kraepelin, E. (1885), Philosophische Studien, ed. W. Wundt. 2, 128 e 327, Leipzig.]
Sobre esta citação de Kraepelin, Freud conclui:
"(...)Se esse ponto for mais desenvolvido, o contraste entre sentido e nonsense torna-se significante. Aquilo que, em certo momento, pareceu-nos ter um significado, verificamos agora que é completamente destituído de sentido. Eis o que, nesse caso, constitui o processo cômico. Um comentário aparece-nos como um chiste se lhe atribuímos uma significância dotada de necessidade psicológica, e tão logo tenhamos feito isso, de novo o refutamos. Essa significância pode querer dizer várias coisas. Atribuímos sentido a um comentário e sabemos que logicamente ele não pode ter nenhum. Descobrimos nele uma verdade, fato impossível de acordo com as leis da experiência ou com nossos hábitos gerais de pensamento.(...)".
http://arsm0.tripod.com/extensao/id14.html
(1905) [Freud,S.]
1905 Leipzig e Viena: Deuticke, Pp. ii + 206.
1912 2ª ed. Mesmos editores. Pp. iv + 207.
INTRODUÇÃO - DER WITZ UND SEINE BEZIEHUNG ZUM UNBEWUSSTEN
"(...)Outras idéias, mais ou menos inter-relacionadas, que têm emergido para a definição ou a descrição dos chistes, são as seguintes: um contraste de idéias, sentido no nonsense, desconcerto e esclarecimento.
Definições como a de Kraepelin enfatizam como fator principal o contraste de idéias. Um chiste é a conexão ou a ligação arbitrária, através de uma associação verbal, de duas idéias, que de algum modo contrastam entre si. (...)" Zur Psychologie des Komischen, Kraepelin, E. (1885), Philosophische Studien, ed. W. Wundt. 2, 128 e 327, Leipzig.]
Sobre esta citação de Kraepelin, Freud conclui:
"(...)Se esse ponto for mais desenvolvido, o contraste entre sentido e nonsense torna-se significante. Aquilo que, em certo momento, pareceu-nos ter um significado, verificamos agora que é completamente destituído de sentido. Eis o que, nesse caso, constitui o processo cômico. Um comentário aparece-nos como um chiste se lhe atribuímos uma significância dotada de necessidade psicológica, e tão logo tenhamos feito isso, de novo o refutamos. Essa significância pode querer dizer várias coisas. Atribuímos sentido a um comentário e sabemos que logicamente ele não pode ter nenhum. Descobrimos nele uma verdade, fato impossível de acordo com as leis da experiência ou com nossos hábitos gerais de pensamento.(...)".
http://arsm0.tripod.com/extensao/id14.html
3.8.06
Fnord
Fnord é chá de erva sem a erva
Fnord é uma montanha muito, mas muito alta
Fnord é a razão pela qual uma caixa de camisinhas vem com 12 ao inves de 10
Fnord é a linha azul na estrada que nunca é pintada
Fnord é o lugar pra onde as meias vão quando somem da lavanderia
Fnord é um jogo de video game como o pacman, mas sem os pontinhos
Fnord é uma nuvenzinha estufada que se vê as 5 da tarde
Fnord é a etiqueta branca que vem nas fitas K7
Fnord é onde os ônibus se escondem a noite
Fnord é a página branca no final do livro
Fnord é o barulho que a árvore faz quando cai no bosque e ninguém ouve
Fnord é o parafuso que cai do carro sem nenhuma razão
Fnord é a razão pela qual Burger King usa papel ao invés de papel
alumínio
Fnord é o desgaste no seu tênis
Fnord é aquele pontinho laranjado nas paginas amarelas
Fnord é o picles sem as lombadas
Fnord é a razão pela qual os patos comem lama
Fnord é um pão tostado sem o pão
Fnord é a cortina veneziana sem as lâminas
Fnord é as aspas na palavra "droga"
Fnord é a origem de todos os zero bits do seu computador
Fnord é o eco do silêncio
Fnord é o cheiro-verde no prato da vida
Fnord é o imposto sobre felicidade
Fnord é o que seu cerebro sente quando se segura o folego por muito
tempo
Fnord é a razão pela qual homosexual enrustidos continuam enrustidos
Fnord é a série de e-mails chatos
Fnord é o buraco do donut
Fnord é o donut todo
Fnord é a cor que somente os cegos podem ver
Fnord é o serial number na caixa de sucrilhos
Fnord é o universo com entropia decrescente
Fnord é o yin sem o yang
Fnord é a razão pela qual HTML tem tantos ...
Fnord é o trevo de quatro folhas que perdeu uma
Fnord nunca dorme
Fnord é a "eia" na palavra baleia
Fnord não é uma partícula ou mesmo uma onda
Fnord é o espaço entre os pixeis do seu monitor
Fnord é o antebellum flagellum fella.
Fnord é o aspirador de pó consciente
Fnord é o menor número maior que zero
Fnord vive no espaço vazio acima do ponto decimal
Fnord é a cor estranha nas costas do dragão
Fnord foi visto a ultima vez em Omaha, Nebraska.
Fnord é o pioneiro da palavra pioneiro
Fnord é o último grão de areia que você nao consegue tirar do seu sapato
Fnord guarda uma sombrancelha extra no bolso
Fnord é a razão pela qual os médicos te pedem para tossir
Fnord é o "ooo" in vrooom nos carros de corrida
Fnord usa duas banheiras de uma vez
Fnord é chá de erva sem a erva
Fnord é uma montanha muito, mas muito alta
Fnord é a razão pela qual uma caixa de camisinhas vem com 12 ao inves de 10
Fnord é a linha azul na estrada que nunca é pintada
Fnord é o lugar pra onde as meias vão quando somem da lavanderia
Fnord é um jogo de video game como o pacman, mas sem os pontinhos
Fnord é uma nuvenzinha estufada que se vê as 5 da tarde
Fnord é a etiqueta branca que vem nas fitas K7
Fnord é onde os ônibus se escondem a noite
Fnord é a página branca no final do livro
Fnord é o barulho que a árvore faz quando cai no bosque e ninguém ouve
Fnord é o parafuso que cai do carro sem nenhuma razão
Fnord é a razão pela qual Burger King usa papel ao invés de papel
alumínio
Fnord é o desgaste no seu tênis
Fnord é aquele pontinho laranjado nas paginas amarelas
Fnord é o picles sem as lombadas
Fnord é a razão pela qual os patos comem lama
Fnord é um pão tostado sem o pão
Fnord é a cortina veneziana sem as lâminas
Fnord é as aspas na palavra "droga"
Fnord é a origem de todos os zero bits do seu computador
Fnord é o eco do silêncio
Fnord é o cheiro-verde no prato da vida
Fnord é o imposto sobre felicidade
Fnord é o que seu cerebro sente quando se segura o folego por muito
tempo
Fnord é a razão pela qual homosexual enrustidos continuam enrustidos
Fnord é a série de e-mails chatos
Fnord é o buraco do donut
Fnord é o donut todo
Fnord é a cor que somente os cegos podem ver
Fnord é o serial number na caixa de sucrilhos
Fnord é o universo com entropia decrescente
Fnord é o yin sem o yang
Fnord é a razão pela qual HTML tem tantos ...
Fnord é o trevo de quatro folhas que perdeu uma
Fnord nunca dorme
Fnord é a "eia" na palavra baleia
Fnord não é uma partícula ou mesmo uma onda
Fnord é o espaço entre os pixeis do seu monitor
Fnord é o antebellum flagellum fella.
Fnord é o aspirador de pó consciente
Fnord é o menor número maior que zero
Fnord vive no espaço vazio acima do ponto decimal
Fnord é a cor estranha nas costas do dragão
Fnord foi visto a ultima vez em Omaha, Nebraska.
Fnord é o pioneiro da palavra pioneiro
Fnord é o último grão de areia que você nao consegue tirar do seu sapato
Fnord guarda uma sombrancelha extra no bolso
Fnord é a razão pela qual os médicos te pedem para tossir
Fnord é o "ooo" in vrooom nos carros de corrida
Fnord usa duas banheiras de uma vez
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